sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O Caldo de Pedra

O Caldo de Pedra

Um frade andava ao peditório. Chegou à porta de um lavrador mas não lhe quiseram dar nada. O frade estava a cair com fome, e disse:

— Vou ver se faço um caldinho de pedra.

Pegou numa pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela para ver se era boa para fazer um caldo. A gente da casa pôs-se a rir do frade, e daquela lembrança. Diz o frade:

— Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muito boa.

— Sempre queremos ver isso - responderam-lhe.

Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, disse:

— Se me emprestassem um pucarinho…

Deram-lhe uma panela de barro. Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro.

— Agora se me deixassem estar a panelinha aí ao pé das brasas...

Deixaram. Assim que a panela começou a chiar, disse ele:

— Com um bocadinho de unto é que o caldo ficava de primor.

Foram-lhe buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada para o que via. Diz o frade, provando o caldo:

— Está um bocadinho insosso; bem precisa de uma pedrinha de sal.

Também lhe deram o sal. Temperou, provou, e disse:

— Agora é que com uns olhinhos de couve ficava... que os anjos o comeriam.

A dona da casa foi à horta e trouxe-lhe duas couves. O frade limpou-as e ripou-as com os dedos deitando as folhas na panela.

Quando os olhos já estavam aferventados, disse o frade:

— Ai, um naquinho de chouriço é que lhe dava uma graça...

Trouxeram-lhe um pedaço de chouriço. Ele botou-o à panela e, enquanto se cozia, tirou do alforge pão, e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava que era um regalo. Comeu e lambeu o beiço. Depois de despejada a panela, ficou a pedra no fundo. A gente da casa, que estava com os olhos nele, perguntou-lhe:

— Ó Senhor Frade, então a pedra?

Respondeu o frade:

— A pedra, lavo-a e levo-a comigo para outra vez.

E assim comeu onde não lhe queriam dar nada.

Conto Tradicional português, recolhido por Teófilo Braga












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